sexta-feira, 1 de maio de 2015

Admirável (e complexo) Mundo Novo

A sociabilidade e a vida em sociedade são essenciais para o ser humano. Ninguém é independente a ponto de não precisar do outro para nada. Precisamos da pessoa que planta o trigo, da pessoa que o colhe, da que o vende, da que o compra e daquela que fabrica o pão para podermos comer. Também precisamos da que nos emprega, para que tenhamos dinheiro para comprar o pão. Entre tantos outros exemplos.

Dizer que as novas tecnologias de comunicação, atreladas à internet, revolucionaram a maneira do ser humano se comunicar é redundante. A possibilidade trazida por computadores, tablets ou smartphones de conversar em tempo real, por exemplo, com alguém em outro continente, alterou a percepção que tínhamos das distâncias. Quão distante de mim está uma pessoa que mora na China? À distância de um clique, talvez.

A possibilidade de se ter o mundo na palma das mãos gera uma preocupação recorrente: Será que a conexão constante não está afastando quem já está próximo?
Cena do filme Wall-e na qual dois homens que estão lado a lado conversam através da mediação tecnológica.

Tornou-se cada vez mais comum ver em círculos de amigos, por exemplo, pessoas reunidas, que simplesmente não se olham nos olhos, atentas demais às telas de seus smartphones. Contudo, afirmar que a tecnologia é um mal que corrompe a humanidade seria reduzir demais o fenômeno. Foi através de sites de redes sociais que protestos foram organizados, debates políticos foram travados e boatos foram tanto disseminados quanto desmentidos.

É importante ressaltar que redes sociais não são uma coisa nova. "Redes sociais complexas sempre existiram, mas os desenvolvimentos tecnológicos recentes permitiram sua emergência como uma forma dominante de organização social. Exatamente como uma rede de computadores conecta máquinas, uma rede social conecta pessoas, instituições e suporta redes sociais" (Wellman, 2002b, p.2 apud RECUERO, 2009, p. 93).

A grande diferença é que, naturalmente, com o advento da internet, as redes sociais transferiram-se para esse novo “suporte”, adaptando-se e ganhando novas regras. Frequentemente ouvimos o termo “redes sociais” para designar sites como Twitter, Facebook e Orkut. Mas trata-se de um conceito erroneamente aplicado: o mais correto é chamá-los de “sites de redes sociais”, já que as redes são maiores que esses sites.

O que acontece é que os sites em questão passam a mediar o contato entre as pessoas, encurtando distâncias, horizontalizando a difusão de informação e até aliviando o peso de determinadas convenções sociais. Raquel Recuero, em seu livro “Redes Sociais na Internet”, aponta algumas tendências das relações sociais entre pessoas no espaço virtual. As interações entre pessoas passam a ter um caráter “migrante”, espalhando-se entre diferentes plataformas. Uma conversa pode começar no Twitter, seguir para o Facebook e depois para o Skype.

Os pontos positivos dessas novas formas de sociabilidade através da internet são inegáveis. Mas e quanto ao exemplo dos círculos de amigos que vivem grudados em seus celulares? Em seu texto "Why Can't We Read Anymore?", Hugh McGuire, fundador do PressBooks (plataforma de publicação de livros online baseada no WordPress) e do LibriVox (biblioteca de audiolivros de domínio público), disserta sobre a recorrente dificuldade de concentração durante a leitura de livros e textos longos. O autor aponta o smartphone e seu poder de sedução como responsáveis pelo fenômeno.

Ele afirma, com base em pesquisas, que os aplicativos e sites de redes sociais operam segundo uma lógica simples: acessar novas informações causa uma descarga de dopamina, e a dopamina faz com que nos sintamos bem. Logo, prometendo nos trazer sempre algo novo, os smartphones nos viciam e colaboram para desatenção. À longo prazo, isso pode causar maiores problemas de atenção, bem como diminuir a produtividade.

Mas nem tudo parece perdido. Michel Serres, em seu ensaio “Polegarzinha”, defende que essa nova geração composta de nativos digitais está inaugurando uma maneira de pensar diferenciada para um mundo diferenciado, sendo capaz até mesmo de subverter a ordem já estabelecida nas salas de aula. Eles querem tudo ao mesmo tempo, sabem de tudo e trazem à tona uma nova inteligência, talvez mais fragmentada. Se é algo bom ou ruim, não sabemos. Mas uma coisa é certa: estamos diante de uma nova realidade e sociabilidade.

Nesse novo mundo, os boatos continuarão encontrando espaço. Afinal, é na internet, com o auxilio dessas novas mídias e dispositivos, que eles se espalham com mais força nos dias de hoje. Bem ou mal, continuaremos a receber boatos de parentes e agregados, totalmente desesperados com a suposta alta de preço de um produto ou algo do tipo. Infelizmente, a prática de espalhar terror, em momentos de crise, também continuará.

O conteúdo se espalha por aí, os polegarzinhos e polegarzinhas são a nova geração que comandará, no futuro próximo, o destino das novas mídias. Ainda é recente demais para dizer se isso é bom ou ruim. Contudo, algo pode ser dito desde já: é fundamental verificar a procedência de uma informação vista em sites de redes sociais antes de compartilhá-la.
Não custa nada ;)

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