sexta-feira, 22 de maio de 2015

Big Brother is watching you

Quando se fala sobre vigilância, há quem associe o termo a outros vocábulos, como controle e monitoramento. Mas há diferenças marcantes de sentido entre os três. Segundo Lemos (2009, p. 2), "controle" se refere à fiscalização de atividades, como ações normalmente associadas ao governo e ao domínio de pessoas, ações, processos. "Monitoramento" é uma forma de observação contínua para acumular informações visando construir cenários e históricos, ou seja, uma ação de acompanhamento de dados.

Vigilância pode ser definida como uma atitude tomada com o objetivo de evitar algo. É uma observação com fins de prevenção. De acordo com Gow (2005, p. 8, apud LEMOS, p. 2), a vigilância implica algo específico, como a observação intencional das ações de alguém ou a coleta intencional de informações pessoais a fim de observar ações do passado ou do futuro. Na vigilância se exercem as dimensões de controle e monitoramento.

Exemplos de vigilância na ficção não faltam. Um dos mais célebres está na distopia 1984, de George Orwell. O regime do Socialismo Inglês impunha diversas formas de vigilância das atitudes do povo, a exemplo das tele-telas, televisores que ficavam eternamente ligados difundindo as ideias do partido e que também podiam ver quem estava do outro lado, o que estava fazendo e se estava exercendo alguma atividade perigosa. As tele-telas seriam capazes até de detectar sinais do chamado pensamento-crime (qualquer ideia que desafiasse o regime) enquanto o indivíduo dormia. Por trás disso, estava a Polícia das Ideias, mais focada em coibir diretamente o pensamento-crime, eliminando os indivíduos que apresentassem ideias potencialmente perigosas.

Hoje a vigilância está presente de diversas maneiras, em especial na forma de câmeras de segurança, que acabam criando um clima de insegurança. “Se há câmeras nesse local, é porque há ou pode haver algo de suspeito aqui”, pensam as pessoas, segundo estudos sobre o tema, citados no artigo anteriormente mencionado. Pior ainda, existem sistemas dedicados a estudar padrões de comportamento trazidos pelas imagens e construir parâmetros para identificar possíveis atividades suspeitas.

Tais situações orwellianas guiam, naturalmente, a formas de reação por parte dos cidadãos. Contra-vigilância se refere às medidas tomadas para prevenir a vigilância e/ou fugir dela, como se pode inferir. As maneiras de exercer a contra-vigilância variam de comportamentos simples, como usar transportes que não podem ser rastreados e se esconder, até medidas mais refinadas, a exemplo de softwares que evitam que seus dados sejam espionados através do ciber-espaço. 

Em 1984, são apresentadas, também, formas de contra-vigilância, como quando Winston, o personagem principal, busca lugares que estejam fora do campo de visão das tele-telas para escrever no seu diário. De volta à realidade, existe o projeto iSee, que mapeia os locais com presença de circuito interno de vigilância e propõe um mapa de percursos alternativos que não podem ser capturados pelas câmeras. Há a possibilidade de que boatos e informações falsas estejam aptos a ser usados como uma estratégia de contra-vigilância, a fim de enganar aqueles que vigiam.

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