Movimento
social é a ação coletiva de um grupo com o objetivo de obter mudanças
dentro de uma determinada sociedade ou contexto. Ciberativismo
é uma forma de ativismo pela internet, também chamada de ativismo online ou
digital, usada para divulgar causas, fazer reivindicações e organizar mobilizações.
Como dissemos em posts anteriores, a internet revolucionou a
forma de lidar e fazer as coisas, então é natural que atividades da vida
cívica, como manifestações, passem também pela esfera digital. Um exemplo
recente no Brasil foram as manifestações de julho de 2013, organizadas e
veiculadas através de redes sociais.
As manifestações,
que começaram em São Paulo, contra o aumento da tarifa de ônibus, ganharam
repercussão nacional depois de forte represália da polícia. Os manifestantes, a
princípio chamados de “vândalos” pela mídia tradicional, se utilizaram
amplamente das plataformas de redes sociais, como Facebook e Youtube, pra
divulgar o que realmente se passava nas ruas e que os grandes veículos tratavam
como se não fosse grande coisa.
Diante da repercussão de vídeos e de diversas discussões na
internet, a mídia tradicional se viu obrigada a adotar uma nova versão dos
acontecimentos. “Vândalos” se tornaram “manifestantes”. Inclusive, o jornalista
Arnaldo Jabor se desculpou após um comentário feito no primeiro dia das
manifestações.
Os vídeos foram compartilhados por uma nova forma de se
fazer jornalismo, chamada Mídia Ninja, que nasceu nesse contexto de
manifestações graças à possibilidade de mandar informações com mais velocidade,
de dentro da manifestação, a partir de sites de redes sociais. Tal maneira de
espalhamento de informações só foi possível graças ao que é chamado de Web 2.0.
Segundo Alex Primo, “a Web 2.0 é a segunda geração de
serviços online e caracteriza-se por potencializar as formas de publicação,
compartilhamento e organização de informações, além de ampliar os espaços para
a interação entre os participantes do processo” (PRIMO, 2007, apud HÜTTNER e NEGRINI,
2013). Ou seja, a Web 2.0 é nomeada assim porque inaugura uma nova geração da
internet, onde já se suporta um maior fluxo de informações, de
compartilhamentos.
Essa nova geração da web é espaço fértil para uma maior
participação do usuário no processo de divulgação de informação. A pessoa comum
adquire mais poder nesse processo de circulação de informação, como se viu nas
manifestações de julho de 2013. Ferramenta formidável nesse processo, o site de
rede social Facebook funciona perfeitamente para essa nova forma de ativismo,
pois o acesso é fácil, a possibilidade de compartilhamento é simples: basta um
clique.
No entanto, não podemos esquecer dos boatos, que aparecem de
tempos em tempos a cada manifestação marcada em sites de redes sociais. Se, por
um lado, esses sites são ferramentas não só necessárias nesse processo, como
também importantes em estabelecer relações e fortalecer laços (RECUERO, 2009),
por outro lado facilitam e muito o espalhamento de boatos. Basta clicar em
compartilhar ou retuitar.
Não é difícil imaginar o uso do espalhamento de boatos a fim
de dissipar ou até mesmo fortalecer um movimento criado a partir de sites de
redes sociais, por exemplo. Por um lado, há boatos que objetivam diminuir um
movimento social. Por outro, há movimentos sociais que se utilizam de boatos
para unir as pessoas em torno de uma causa. É o caso, por exemplo, da página do
Facebook “Revoltados Online”, que sustenta sua posição anti-governo e anti-PT
usando de informações falsas que influenciam fortemente seus seguidores.
Boatos e ciberguerras
Os boatos emergem, também, como um instrumento muito
utilizado em ciberguerras. Em sua acepção geral, a ciberguerra consiste no uso
de táticas baseadas no espaço virtual para destruir o inimigo, invadindo os
programas de controle de operações vitais para a sociedade do país em questão.
Exemplos comuns estão nos ataques às redes de comando de serviços, como energia
elétrica; às redes de controle de tráfego aéreo e às redes bancárias.
A ciberguerra não é apenas guerra eletrônica, mas abrange as
operações de guerra psicológica, a teoria da mentira, o terrorismo seletivo e
muitos outros campos do conhecimento humano. Por essa razão, os boatos podem se
tornar uma grande e poderosa arma. Segundo o professor Fernando G. Sampaio, em
seu texto "Ciberguerra - Guerra Eletrônica e Informacional: um novo
desafio estratégico",
"Em casos de situações caóticas, com anulação dos serviços normais de notícias, os boatos se difundem facilmente, precisamente porque não existe mais a rede de comunicações conhecida e confiável. Poucos agentes e muitas maneiras de difusão são suficientes para fazer o caos se multiplicar até fazer as multidões atacarem o que resta do seu próprio governo, forças de segurança e sistemas de emergência". (p. 6)
O mundo presenciou durante os últimos anos, algumas
investidas dessa natureza - ataques e represálias. A Estônia teve, em abril de
2007, quase todos os seus sites governamentais atacados, assim como sites de
jornais e emissoras de televisão que também ficaram fora do ar. Sem uma autoria
assumida, especula-se que russos teriam agido em resposta à remoção da estátua
de um soldado russo. O monumento de bronze, que simbolizava a vitória russa
diante do nazismo, persistia como lembrança dos anos de ocupação soviética na
Estônia.
Em 2010, o vírus Stuxnet foi usado para atacar sistemas
fundamentais em diversos países, principalmente o Irã e seu programa nuclear.
Ao ser usado, causou danos a estruturas físicas dos reatores iranianos. Assim
como no caso da Estônia, não houve uma autoria reivindicada. Contudo,
reportagens do Washington Post e The New York Times apontam os Estados Unidos e
Israel como responsáveis pelo ataque que fariam parte de uma ação conjunta
batizada de “Operação Jogos Olímpicos”.
Em outras ocasiões, o malware Duqu e o vírus Flame foram
usados em ataques a órgãos governamentais do Irã, assim como o Gauss foi
utilizado contra bancos do Oriente Médio, principalmente no Líbano. Os
objetivos dessas investidas eram obter informações confidenciais, seja do
serviço de inteligência ou a respeito de movimentações financeiras.
O caso mais recente aconteceu no início desse ano, quando
fontes no FBI (polícia federal americana) asseguram que a Coreia do Norte
orquestrou ataques cibernéticos à Sony Pictures. Dados da Sony Pictures,
incluindo milhares de e-mails trocados pelos principais executivos do estúdio,
foram vazados. O episódio causou caos na industria cinematográfica de Hollywood
e prejuízos a Sony.
Através do grupo autodenominado GOP (Guardians of Peace), o regime
norte-coreano estaria repreendendo a empresa por causa da comédia “A
Entrevista”, uma paródia ao líder Kim Jong-un, que no filme é vítima de um
plano para assassiná-lo. O estúdio cancelou a estreia do longa depois que
algumas das principais redes de cinemas dos Estados Unidos alegarem ter sofrido
ameaças de atentado terrorista em caso de exibição.
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