terça-feira, 17 de março de 2015

Descansando os polegares (ou não)

No princípio, eram os celulares. Dos tijolões carregados em nossos cintos, com telas monocromáticas e poucas funções, até o surgimento de modelos mais modernos, finos e leves, com telas coloridas e câmeras, a revolução já foi grande. Mas, apesar de tudo, a função essencial era telefonar livremente, de qualquer lugar, sem fios. 
Eis que, no sétimo dia, surgiram os smartphones, misto de celulares e palmtops, aparelhos que possibilitam um mundo de atividades para além da telefonia. São verdadeiros minicomputadores de mão, com especificações de hardware cada vez mais avançadas, e cumprem um papel que hoje nos parece fundamental: conectar-nos à internet. São quase extensões do nosso corpo. 
Por essa razão, para a maioria das pessoas, ficar sem seus smartphones é algo inimaginável. Essa foi a proposta do professor André Lemos para a turma de Comunicação e Tecnologia, deixando livre a participação dos alunos: quarenta e oito horas sem smartphones e celulares de qualquer tipo. A ideia já causou estranhamento na maioria dos alunos, mas euconsiderei que a experiência seria fácil. Assim o foi.
O início do experimento se deu na manhã de quinta-feira, 12 de março, terminando na manhã de sábado, 14 de março. O smartphone e o celular comum - usado na rua por chamar menos atenção que o primeiro - foram desligados antes que eu saísse rumo à faculdade e guardados dentro do baú da estante do meu quarto, trancados à chave. Logo foi necessário "ressuscitar" um objeto que muitas pessoas já substituíram pelo celular: o relógio de pulso. Usei o tablet para me despertar na manhã de sexta-feira. Para ouvir música, outra função atrelada a esses dispositivos, foi utilizado um reprodutor de áudio portátil, mais conhecido como mp4 player. No entanto, ele já estava sendo utilizado desde uma falha no cartão de memória do celular auxiliar, de forma que, nesse ponto, tudo continuou na normalidade. 
"Normalidade", aliás, é a palavra que melhor define essa experiência, devido à permissão do uso de computadores e tablets para acesso aos conteúdos digitais. Traduzindo: quase tudo que costumo fazer no celular pôde ser feito sem problemas no computador e no tablet. Nem o Whatsapp, aplicativo de troca de mensagens exclusivo para celular, que para muitos já substituiu as mensagens SMS, fez falta. Também, como não é comum que eu faça ligações, e as pessoas mais próximas estavam avisadas do que seria feito, não houve problemas nesse ponto. O smartphone só fez falta de verdade em termos de desempenho, já que os dispositivos usados não suportavam um alto volume de tarefas ao mesmo tempo, travando constantemente.
Por conta de questões paralelas, durante o período do experimento eu desativei o meu perfil no Facebook, e esperava ficar longe da rede por um bom tempo. Mas me vi obrigada a voltar em menos de vinte e quatro horas, devido a trabalhos de faculdade que seriam discutidos por lá. Tal qual ficar sem celular, ficar sem Facebook não é, em essência, algo que me amedronta. O problema maior é a necessidade, o "dever" de estar conectado ao Facebook porque todos estão lá. 
Atualmente, organizamos as esferas de nossas vidas em torno de espaços virtuais que não necessariamente são móveis. Desta forma, talvez a experiência fosse mais impactante se a ideia fosse ficar 48 horas sem acesso à internet, em qualquer dispositivo. Acredito que aí sim eu me sentiria de volta aos tempos das cavernas. Mas posso citar, apesar de tudo, um resultado positivo: constatei que não sou tão viciada em celular quanto todo mundo pensava.

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