Segunda-feira,
09 de março de 2015.
Eram 21h em
ponto em Salvador, quando desliguei o celular com uma sensação incômoda que eu
não sabia explicar exatamente. Só poderia voltar a ligar o celular dali a 48
horas, ou seja, às 21h da quarta-feira (11/03/2015).
Na semana anterior, o professor havia proposto
aos alunos da disciplina Comunicação e tecnologia do semestre de 2015.1, que
passassem 48h consecutivas com seus respectivos aparelhos celulares desligados.
Decidi aceitar o desafio, sabia que não seria algo impossível, porém não seria
exatamente fácil.
Logo que o
professor André Lemos propôs a experiência, pensei em fazer no dia que menos
precisaria do aparelho. Celulares antigos já quebraram antes e tive que me
virar sem eles, então não seria tão difícil. Sempre acreditei que, perto das
minhas amigas, eu era a mais desapegada do aparelho, mas quando fui pensando
nas coisas que eu fazia e para as quais usava o celular, vi que a experiência
poderia ser mais difícil do que eu imaginava.
Quando
pensei no que era mais imprescindível para mim no celular, a primeira coisa que
veio na mente foi: me comunicar com minha mãe e meu namorado. O resto do mundo poderia esperar, mas eles eu
sei que ficariam preocupados caso eu demorasse de responder. Porém um aviso
prévio poderia resolver essa situação, não poderia? Ainda assim, seria estranho
passar grande parte do dia incomunicável.
Logo depois
uma série de informações foi chegando na minha mente enquanto a minha ficha
caía: eu uso o celular pra quase tudo. Desde o despertador até a calculadora, o
aparelho auxilia a minha rotina. Seja para ver as horas, verificar a previsão
do tempo ou até para ouvir música, é difícil não usá-lo para alguma coisa.
Às 21:24, apenas
24 minutos depois, senti que o tempo passou tão rápido que não pude sentir.
Então, conclui que 48h deveriam passar rápido também. Mas o celular estava em
cima da mesa do computador, dentro do meu campo de visão e eu sabia que teria
que resistir à vontade de pegá-lo, ligar o wifi e verificar se havia chegado
alguma mensagem nova. Isso iria ter que esperar.
Ao contrário
do que eu esperava, à noite não foi mais fácil. Culpa da minha competitividade,
ou não, sonhei que utilizava o celular diversas vezes, portanto seria desclassificada
da “brincadeira”.
O restante
do dia seguiu seu curso normalmente, até eu lembrar que precisaria fazer uma
ligação, mas o número para o qual eu deveria ligar estava... salvo no celular.
Devido a experiências passadas, passei a anotar os contatos mais importantes
numa agenda, só por precaução, mas aquele, infelizmente, não estava.
Às 21 horas
do dia 10 de março de 2015 (terça-feira), 24 horas depois de iniciada a
experiência, por motivos alheios a minha vontade, precisei ligar meu aparelho
celular. Minha tia, depois de tentar diversas vezes me contatar pelo telefone
móvel, ligou para o fixo aqui de casa para avisar que minha avó estava
internada no hospital com pneumonia e minha mãe teria que passar a noite com
ela. Péssima hora para se estar incomunicável. Consegui ficar um dia inteiro,
quem sabe na próxima?
Ao ligar o
celular novamente, um sentimento conflitante me preencheu. Metade frustração
por não ter podido completar a experiência como eu havia planejado e metade
felicidade por poder ficar comunicável novamente (e poder falar com minha mãe
para saber melhores detalhes sobre o estado de saúde de minha avó). Só no
whatsapp foram mais de 200 notificações em umas nove conversas diferentes (uma
mensagem inclusive, era do meu primo falando que minha mãe não estava
conseguindo falar comigo).
Da
experiência eu percebi que:
1 - Se a
experiência fosse passar 48h sem internet, seria potencialmente mais
problemático e desesperador, já que é como me mantenho informada sobre questões
da faculdade;
2 -Minha
maior preocupação de ficar sem o celular era para o caso de alguma emergência
não ter como ligar para a polícia ou o samu (nunca se sabe o que pode
acontecer);
3 -Talvez
seja exagero dizer que entendo o celular como uma extensão do meu corpo, acho
que não chega a tanto, mas ainda assim ficar sem ele por perto gera um
sentimento de “nudez”, como se faltasse algo. Algumas mulheres se sentem “nuas”
quando esquecem o brinco em casa, para mim, esquecer o brinco ainda faz falta,
mas esquecer o celular é muito pior.
Luana Silva
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